A moda é uma engrenagem crucial do nosso sistema. Por meio da criação e reprodução de signos, símbolos e conceitos, ela faz parte não só do nosso vestuário, mas também do nosso imaginário. Enquanto indústria, utiliza muitos recursos naturais e humanos: água para irrigações de algodão, tingimentos, estamparia e beneficiamento de tecidos; terra para plantações de fibras naturais e criação de gado para couro; e extração de petróleo para a produção de fibras sintéticas, como o nylon ou poliéster – a mais usada atualmente.
Ainda, emprega milhões de pessoas ao redor do mundo: só no Brasil, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) aponta a moda como a segunda maior geradora do primeiro emprego e o segundo setor da indústria de transformação que mais emprega. Desse montante, 75% são mulheres.
Tantas demandas ambientais e humanas criam um volume de produção e consumo altissimo. Ainda de acordo com a ABIT, só em 2017, foram produzidas 6,7 bilhões de peças – apenas em território nacional – e a produção global de roupas mais do que dobrou desde 2000.
Mas então, quais os impactos da moda em cada setor que ela infere?
Impactos hídricos: a produção de uma peça de roupa gasta muita água. Desde as plantações ou extração, passando pela lavagem e tingimento, até chegar às nossas mãos. Só para produzir uma calça jeans, podem ser gastos até 11 mil litros de água. E ainda temos a contaminação das águas em decorrência de substâncias químicas tóxicas, utilizadas nos processos de tecelagem (como amaciamentos e alvejamentos) e tinturaria (como estamparia e beneficiamentos), e dos microplásticos, eliminados a partir das nossas roupas sintéticas em todas as lavagens e que vão para os mares e oceanos.
Impactos na Terra: a utilização de fibras naturais no vestuário é milenar. Atualmente, o algodão é uma das mais utilizadas no mundo, ao lado do poliéster. Porém, sua monocultura consome grandes territórios – o que pode gerar desmatamento e licenciamento ambiental ilegal – representando a utilização de enormes quantidades de agrotóxicos e pesticidas prejudiciais à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras e ao solo. Só no Brasil, a cultura de algodão é a quarta que mais consome agrotóxicos. Soma-se a isso a criação de gado na pecuária – que transforma florestas em pasto – para virarem couro.
Impactos no ar: a emissão excessiva de CO2 é um problema urgente em todo o globo. Elas são intimamente ligadas ao aquecimento global, que é o aumento das temperaturas da Terra, principalmente por meio da emissão elevada de gases de efeito estufa em decorrência da ação humana. A moda tem uma grande pegada de carbono principalmente por conta da sua logística de distribuição: toneladas de peças são importadas e exportadas anualmente, por meio do transporte rodoviário ou aéreo, que emitem grandes liberações de carbono resultando numa indústria que emite 1,2 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa ao ano.
Impactos humanos: sendo uma indústria gigante, a moda emprega em todas as suas pontas: agricultoras, químicas, tecelãs, costureiras, estilistas, vendedoras, gerentes e diretoras. Mas constantemente as condições de trabalhos são exploratórias; as peças de vestuário estão entre os itens com maior risco de serem produzidas por meio da escravidão moderna e o trabalho infantil acomete aproximadamente três milhões de crianças e adolescentes só no Brasil, sendo 114 mil (3,8%) na indústria têxtil.
E agora?
Diante de tantos impactos negativos, o que podemos fazer para ajudar? Consumir o que já existe é uma boa alternativa. Acreditamos que a peça mais sustentável é aquela que já existe, ou seja, aquela que já passou por todos os processos e pode continuar circulando pelo mundo. Não demandar novas produções é uma maneira de mitigar os impactos que a moda causa.
Além disso, investir em peças de brechós, consertar, trocar e aproveitar ao máximo tudo que já temos pode ser uma ótima maneira de consumir conscientemente. Nesse processo, também valorizamos tudo que uma peça de roupa pode comportar: recursos da nossa Natureza e tantas vidas que se constituem por meio do trabalho com a moda. A Desapegue nasceu embasada nesse conceito: de troca, colaboração e circularidade de roupas, e também de energias e ideias. Vem com a gente?
por Bárbara Poerner – UN Moda Sustentável
// Desapegue + UN Moda Sustentável : esse texto faz parte de uma série de matérias sobre moda e sustentabilidade, produzidos em parceria pela agência UN Moda Sustentável para a Desapegue. //
REFERÊNCIAS:
https://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor