Alguns artistas são admirados pelas obras que fizeram, outros não só por isso, mas pelo que suas obras representam. Yves Saint Laurent está neste grupo, no ano em que as mulheres queimaram sutiãs na luta pela igualdade, ele deu às mulheres o direito de escancará-los ao lançar as emblemáticas blusas transparentes. Não podemos negar que Yves representa uma mistura de feminilidade e ousadia.
O estilista é sempre lembrado por ter sido o primeiro parisiense da alta-costura a abrir uma boutique “prêt-à-porter” – na tradução literal “pronto para vestir” – popularizando o acesso à alta costura. Sendo que tornar o luxo acessível até hoje é um ato de revolução.
Nos anos 60 ele popularizou o chamado “le smoking” entre as mulheres, que nada mais é do que a combinação do smoking feminino com a blusa transparente. A junção da calça masculina com a delicadeza e atrevimento da transparência deixa claro que igualdade de direitos não significa indistinção. Afinal, liberdade não é sinônimo de uniformidade, muito ao revés.
Não é à toa que Pierre Bergé, companheiro de longa data de Yves, dizia que “Chanel libertou as mulheres e Saint Laurent lhes deu o poder”. Este poder está representado de várias formas nas criações do estilista, mas algo em específico me chama atenção nas inovações de Yves, a combinação entre vermelho e rosa.
Yves era especialista em mistura de cores e pigmentos. A inspiração da sua cartela de cores advinha das obras de arte que tanto atraíam seu interesse. Suas combinações são latentes, mas não óbvias. A inesperada combinação de uma cor primária, o vermelho, com uma cor terciaria, o rosa, ambas fortes, esta sendo esta uma derivação daquela, representam uma ousadia – de “sair da cozinha” – com uma autodeterminação – de “se quiser eu fico na cozinha” – feminina que disseca uma era.
O mais interessante é que a obra de Yves não é apenas uma questão de empoderamento feminino, mas também de revolução intelectual. Afinal, nesse ponto há muita logicidade na política, nada mais óbvio do que o direito de usar sutiã e o direito de não o usar.
Foto: @luisameirelles na nossa revolução intelectual.