A primeira desapegada tem nome, endereço e muito propósito. A Julia Bottecchia nasceu em Vitória, Espírito Santo, e fez Relações Internacionais na Universidade de Vila Velha. No meio da graduação, recebeu uma bolsa para estudar Gerenciamento de Empresas em Deggendorf, na Alemanha.
Lá, se deparou com uma realidade diferente da que vivia no Brasil: “tive um contato muito forte com questões de sustentabilidade; a Alemanha é um país pioneiro nisso, então tudo se recicla – desde garrafas de vidro e de água até tudo o que você compra; isso ficou muito marcado pra mim”, conta.
Com o fim da bolsa e a volta ao Brasil, Julia foi trabalhar no mercado convencional. Ficou 4 anos na área de exportação da Chocolates Garoto e foi durante esse tempo que percebeu como sua experiência poderia sensibilizar outras vidas. Foi aí o início do Desapegue.
Linha do tempo do desapego
Primeiro, a Julia desapegou das roupas. E depois, quando percebeu, já tinha desapegado de ideias antigas e metas que não serviam mais. Foi um vestir de si mesma.
A intenção começou despretensiosa, no seu próprio quarto, onde entendeu que as roupas que tinha já não lhe serviam mais. Começou então a vendê-las no seu Instagram e logo a ideia expandiu pro seu círculo social: trocas e vendas aqui e ali, entre amigas. Esse fluxo de autoconhecimento gerou seu interesse em saber sobre os bastidores da moda, seus impactos sociais e ambientais e como seria possível integrar esse universo de forma consciente e sustentável.
Do quarto nasceu a semente e pro mundo ela foi. O apoio do seu companheiro, Guilherme Gualtiere, e das amigas mais íntimas, foi solo fundamental para o florescimento do Desapegue, que logo migrou para a garagem – o maior espaço disponível na casa até então. Com direito a inauguração, ele garantiu um fluxo maior de pessoas, e depois de dois meses já não era mais suficiente para comportar o movimento.
Além de desapegadas, surgiram marcas autorais e iniciativas locais que compartilhavam os mesmos valores. Com isso, a Julia percebeu que podia realmente fazer do desapego um negócio e ainda usá-lo como ferramenta para impactar positivamente a moda e o mundo, ajudando na criação de novos modelos e relações de negócios.
“Acho que isso se deu muito de como surgiu o Desapegue, da minha procura um propósito maior interno e querer passar isso para as pessoas, para que o meu propósito contribuísse com a vida delas.”
Com essa sensibilidade e esforço, o Desapegue ganhou seu primeiro espaço físico fora de casa. Inicialmente contava só com o brechó e feiras pontuais com marcas da região, mas logo se transformou em loja colaborativa – modelo que segue até hoje.
Ficou dois anos instalada ali, mas de novo veio o momento de crescer. Floresceu então para o lugar que reside hoje, na Praia do Canto. As raízes continuaram as mesmas, só o espaço que abriu novas portas para abrigar novos frutos e colheitas.
Hoje o Desapegue funciona como um brechó, loja colaborativa e ainda se desdobra num guarda-roupa compartilhado, tudo com mais de 40 marcas associadas que vendem online e offline. Para a Julia, tudo isso é muito mais que uma loja ou marca, mas uma forma de germinar seus propósitos e construir um mundo mais colaborativo.
“O Desapegue hoje representa tudo pra mim; é o lugar que venho todos os dias, onde consigo trocar com várias outras pessoas e receber conhecimento. Então é um lugar mágico.”
Os frutos já chegaram a outro estado: o Desapegue abriu uma loja em Florianópolis (SC) em 2017 e pretende chegar até São Paulo e Belo Horizonte. De desapego em desapego, ele vai conquistando seu espaço tendo a Julia como guia. “Eu espero muito que o Desapegue chegue a mais pessoas, que mais pessoas tenham conhecimento sobre essa moda consciente, que faça parte das pessoas para as pessoas.”
Desapegar é verbo. Vem praticar com a gente?
// Desapegue + UN Moda Sustentável : esse texto faz parte de uma série de matérias sobre moda e sustentabilidade, produzidos em parceria pela agência UN Moda Sustentável para a Desapegue. Acompanhe! //